Foi um oi por impulso. Se não estivesse passando tão distraidamente ela não teria coragem de pronunciar aquele oi alto, longo e chamativo. E não teria dado um sorriso que pareceu a ela tão revelador. Começou nela uma certa agitação interna que a fez rir de si mesma. Ele ficou surpreso. E nervoso. Sorriu. Todos os seus órgãos pareceram mudar de posição naquele momento. E ele não conseguiu dizer nada. Disse 'oi'.
Ela estava agora lembrando do livro que estava lendo quando o conheceu. Expressões como 'tudo bem', 'fazendo o que da vida' deixavam aquela conversa terrivelmente silenciosa. Era um romance dos mais apaixonantes. Precisava relê-lo. Ele se lembrou, de repente, de uma música que tocava na rádio no tempo em que a conheceu. Ele aprendeu a tocá-la, no teclado. Na época parecia difícil, mas era um esforço que fazia por prazer. Sabia que ela gostava da música.
Como estavam mudados! O modo de se vestir, o de falar, o de caminhar. Não mudaram os sorrisos. No entanto aquela sensação de inquietude quando se encontravam não mudou. Ele ficou desconcertado por lembrar das vezes que recusara a partida de futebol com os amigos pra passar, casualmente, em frente à casa dela, na esperança de ele não sabia o quê! Apenas passava em frente com um anseio terrível com alguma ação. Ela se lembrou das vezes que suas amigas perguntaram de quem ela estava gostando. E quando perguntaram o que achava dele. Dizer qualquer coisa a respeito dele seria inútil, nunca tinham se falado direito. Claro que, agora, todos esses pensamentos de adolescente não existiam mais.
Eles nunca tinham sido amigos, no entanto ela o parou na rua como se tivessem sido os melhores. Eles nunca tinham sido amigos, no entanto ele se lembrou dela desde o primeiro instante.
Eles se despediram. Não trocaram telefone nem msn. Mas deram-se um beijo no rosto, e com ele trocaram toda a ternura que nunca nenhum mostrou no passado. Foram andando em direções opostas. Nunca sorriram sorrisos tão satisfeitos como aqueles.