10 de dezembro de 2008

Analogia

Certa vez ouviram uma velhinha ralhar, escandalizada, com uma mãe que passava com dois iguais: "Ô minha filha! Os meninos são gêmeos! Têm de estar vestidos de igual!"

Tem a vantagem de poder pregar peças, e tramavam algumas naquele instante. E as duas senhoras que passavam não ouviram a resposta da mãe e não souberam dizer se foram percebidas. De verdade, a velhinha era uma exceção na opinião geral. Quando pequenos há alguns que acham bonitinho os gêmeos andarem vestidos iguais, ou de tom parecido, mas conforme vão esticando, o bonitinho diminui. Nas bocas de alguns chega a ridículo. A retórica, em geral, rodeava a construção da identidade própria ou, já em ponto de crítica, a falta de personalidade.

A maioria culpava a mãe das duas. Elas não. Sabiam que, desde cedo, tiveram consciência de que as gêmeas eram, afinal, duas pessoas distintas que tiveram a sorte de serem gêmeas. E quiseram continuar se vestindo igual. E se uma sujava a roupa, as duas tinham de trocar. E às vezes passavam tempo decidindo o que iam vestir. Hoje, alguém queria usar verde, e a outra marrom, e discutiam à exaustão quando não concordavam, mas ambas não abriam mão de se vestir igual. E quando chegavam a um consenso, voltavam a discutir um novo impasse.

Ainda tinham de lidar com inconvenientes, como pessoas que insistiam em presentear as irmãs com roupas diferentes, em datas como o natal e o aniversário. Os presentes eram ou completados ou ignorados. Os inoportunos se tornavam vítima de alguma confusão futura.

Confundir as pessoas era uma disposição permanente nas monozigóticas. E ainda que as manifestações de reprovação persistissem, elas encaravam com bom humor todos os efeitos dessa determinação. Naquele dia, o episódio da estrepitante senhora, elas completavam 62 anos de uniformidade.

2 comentários:

reginaline disse...

realmente esse fato merecia um post...

um dia terei a oportunidade de ver alguns gemeos já velhos vestidos iguais...
;)

reginaline disse...
Este comentário foi removido pelo autor.